Coalizão pró-independência vence na Catalunha
O movimento pela independência da Catalunha obteve uma vitória histórica neste domingo (27), ao conquistar maioria absoluta no Parlamento regional.
As eleições ganharam caráter plebiscitário devido à determinação do grupo vitorioso de iniciar unilateralmente um processo de independência que é recusado pelo governo da Espanha.
Alberto Estévez/Efe | ||
Presidente catalão, Artur Mas (2º da dir. para esq.) comemora resultado de eleições regionais |
A coligação Juntos pelo Sim, do atual governador, Artur Mas, da CDC (Convergência Democrática da Catalunha), de centro-direita, e da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), alcançou 62 das 135 cadeiras.
Com o apoio do CUP (Candidatura de Unidade Popular), partido radical de esquerda que também apoia a secessão e elegeu dez deputados, a coalizão ultrapassará a marca de 68 e levará adiante o projeto de independência.
Houve participação recorde, de 77% dos 5,5 milhões de eleitores. No entanto, no voto popular, os partidos pró-independência não obtiveram maioria dos votos válidos, ficando com apenas 48%.
Pouco depois das 22h (17h em Brasília), os líderes do "Juntos pelo Sim" discursaram sob os aplausos de seus seguidores.
"O 'sim' ganhou. Fazia tempo que trabalhávamos para obter um mandato explícito pela independência da Catalunha e agora o conseguimos", disse Oriol Junqueras, líder da ERC.
O clima épico do final da campanha tomou conta de Barcelona no fim de semana, quando milhares de pessoas tomaram as ruas enroladas na "estelada", bandeira do movimento separatista.
Artur Mas destacou a legitimidade conquistada, porém, prometeu dar atenção aos eleitores que não votaram pela secessão. "Esta é uma vitória que administraremos com sentido de coesão dentro da Catalunha e com sentido de concórdia com respeito à Espanha, à Europa e ao mundo", afirmou.
O desafio independentista lançado por Mas gerou muitas incertezas. Até mesmo o nome que comandará o governo catalão é dúvida.
Artur Mas é o quarto nome da lista de "Juntos pelo Sim", encabeçada pelo ex-eurodeputado verde Raul Romeva. Artur Mas anunciou ter um acordo para seguir no comando, porém, sua liderança é questionada por diversos deputados da CUP, cujos votos podem ser decisivos.
Artur Mas conduziu um debate áspero com o governo conservador de Mariano Rajoy (PP), chegando a ameaçar deixar de pagar as dívidas da Catalunha com a União.
Nas últimas semanas, o debate se centrou na provável saída — temporária, ao menos — da Catalunha da União Europeia e da perda da nacionalidade espanhola por seus cidadãos.
Para conter o ímpeto secessionista, Rajoy propôs uma reforma urgente para ampliar os poderes do Tribunal Constitucional, agilizando penas como a suspensão por prazo indeterminado de um governante que descumpra decisões judiciais.
A guerra judicial que provavelmente será travada deverá levar instabilidade à Catalunha, responsável hoje por mais de 18% do PIB da Espanha.
O governo espanhol deverá tentar impugnar as tentativas da Generalitat (governo da Catalunha) de montar uma estrutura de Fisco e de criar um novo Poder Judiciário.
NEGOCIAÇÃO
Os rumos de uma possível negociação com o governo federal dependerão fundamentalmente do resultado das eleições gerais previstas para 20 de dezembro.
O PP do primeiro-ministro Rajoy sai como o principal derrotado deste domingo, tanto pelo fracasso de sua política inflexível em relação à Catalunha, quanto pelo inexpressivo resultado obtido localmente: apenas 11 deputados eleitos.
O resultado na Catalunha não demorou a gerar reações em Madri. Na noite deste domingo, um grupo de manifestantes abriu uma gigantesca bandeira da Espanha na Porta do Sol, centro nervoso da capital do país.
Rajoy, que acompanhou a apuração no quartel-general do PP, não havia se pronunciado até as 23h.
O PSOE (social-democrata), principal alternativa ao PP, defende uma reforma constitucional que permite um "novo encaixe" da Catalunha na Espanha, num regime federativo onde os estados tenham mais autonomia.
O líder do PSOE, Pedro Sánchez, disse que "perderam os que disseram que essas eleições seriam um plebiscito" e que a maioria dos catalães quer "um novo tempo de diálogo".
"Hoje temos uma Catalunha fraturada, dividida em dois blocos. A tarefa de quem vai governar deve ser a de fechar as feridas abertas na sociedade", afirmou Sánchez.
Já o Cidadãos, partido nascido na Catalunha há dez anos, desponta como a segunda força local, com 25 cadeiras, e seu líder Albert Rivera, se fortalece para as eleições nacionais.
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