A juventude "inútil"
Paulo Pereira de Almeida
Muito se tem escrito acerca da radicalização da juventude e da sua - mais aparente do que real - falta de objetivos de vida e de propósitos. Pessoalmente, devo desde já esclarecer que este argumento não me convence, ora por ser demasiado simplista, ora por parecer intelectualmente desonesto.
A juventude é - como todos sabemos - uma época de escolhas e de experiências. Em sociedades democráticas, desejavelmente secularizadas e livres na escolha das opções de vida, morais, sexuais, religiosas, ou agnósticas, existem - obviamente - riscos de que uma suposta liberdade "excessiva" deixe as juventudes sem projeto. Mas esse constitui - precisamente - o preço a pagar pela manutenção da diversidade de opiniões, de opções, de escolhas que sustentam - e muito bem - as nossas democracias. Só uma visão retrógrada, passadista, ditatorial, é que pode conceber uma sociedade democrática orientada por valores de alguns impostos à maioria da população. Aliás, este é - justamente - o ideário dos regimes ditatoriais, quer os que assentam no culto das personalidades, quer os que assentam no culto religioso, obscurantista e medievo. Não é por acaso que - precisamente nestes regimes políticos totalitários e assentes na propaganda - os jovens são logo desde cedo doutrinados e incluídos em grupos mais vastos, de modo a que assim se possam condicionar as suas opções e escolhas futuras, mantendo o status quo vigente.
Posto isto, devo confessar que sempre me preocuparam - e continuam a preocupar -, os discursos que tentam associar a juventude a uma categoria social de pessoas "inúteis", sem "projeto de vida" ou - no limite - "preguiçosas". Nada de mais errado e intelectualmente capcioso: seja no espaço da escola, de casa, das ruas, dos movimentos sociais, das redes virtuais, ou de muitos outros, é a partir da liberdade de escolha e de experiências que as juventudes constroem a sua identidade, moldando a moral atual e futura das sociedades. Por isso mesmo - e como facilmente se depreende - é nas democracias avançadas, modernas, livres, que os jovens melhor se encontram preparados para fazer escolhas, para definirem o seu projeto de vida atual e futuro, e para serem - como diz o aforismo - os "adultos de amanhã". Cabe - pois - aos poderes públicos, aos governos, aos partidos políticos, às escolas, às universidades, e às instituições em geral, a responsabilidade de manterem em aberto o leque de escolhas das juventudes. Trata-se - naturalmente - de lhes proporcionar um lugar no mercado de trabalho, nas instituições de enquadramento social, ou mesmo nas organizações religiosas ou laicas. E num momento em que se discute a meia dúzia de casos - no particular, preocupantes, mas, no geral, irrelevantes - de "jovens radicalizados" pelas fileiras do terrorismo jihadista, é tempo de olhar para os mais de 30% de jovens desempregados pela União Europeia e Estados Unidos da América e perguntar se será este o caminho certo para as sociedades capitalistas avançadas.
Entretanto - e como nota de esperança - ficam os cerca de 40 mil jovens que ingressaram voluntariamente nas Forças Armadas portuguesas: este- sim - um projeto de vida válido e de sucesso. Um exemplo - esperamos -que seja seguido por muitos.
(Fonte: Diário de Notícias)
Nenhum comentário:
Postar um comentário