Um grupo cada vez maior de pesquisadores acha que estamos nos tornando mais distraídos - e mais burros - por causa do uso excessivo de aparelhos digitais.
Por Alberto Cairo, Peter Moon E Letícia Sorg
O
escritor americano Nicholas Carr sentiu que algo estranho ocorria com ele há
uns cinco anos. Leitor insaciável,
percebeu que já não era capaz de se concentrar na leitura como antes. Na
verdade, a sua ansiedade disparava
diante de qualquer tarefa que exigisse concentração – os seus olhos procuravam
a tela do computador ou do celular. O impulso de espiar na Internet
era quase incontrolável, diz ele. “Sentia que estava forçando o meu cérebro a
voltar para o texto”, afirma. “A leitura profunda, antes tão natural para mim, tinha
se transformado numa luta”. Tal afirmação abre o livro The shallows – What the Internet is doing to our brains (‘Os
superficiais – O que a Internet está
fazendo com os nossos cérebros’, ainda sem tradução no Brasil). Nele, Carr faz
uma acusação seriíssima:
a exposição constante às mídias digitais está mudando, para pior, a forma como
pensamos. Ele e um punhado
de autores respeitáveis acreditam que, por causa do uso excessivo de
computadores e de outros aparelhos digitais, o nosso cérebro é alterado e estamos
nos tornando menos
inteligentes, mais superficiais e imensamente distraídos – o inverso de tudo aquilo
que fez de nós a espécie mais bem-sucedida do planeta Terra. “Em vez de mentes juvenis inquietas e repletas de
conhecimento, o que vemos nas escolas é uma cultura anti-intelectual e
consumista, mergulhada
em infantilidades e alheia
à realidade adulta”, afirma Mark Bauerlein, autor de The dumbest generation (‘A geração mais estúpida’). No livro, ele
antecipa uma nova Idade das Trevas, quando os indivíduos que hoje são crianças
e adolescentes chegarem à maturidade. Bauerlein, professor na Universidade Emory, na
Geórgia, supervisiona
estudos sobre a vida cultural americana. Ele acredita que as novas gerações,
educadas sob a influência das mídias digitais, são formadas por narcisistas despreparados
para pensar em profundidade sobre qualquer assunto. Ele diz que uma pesquisa de
2006 com mais de 81 mil estudantes americanos de ensino médio detectou que 90%
deles “leem ou estudam” menos de cinco horas por semana – embora passem “pelo
menos” seis horas navegando na Internet
e um período equivalente assistindo à TV ou jogando videogame. “Indivíduos que não sabem praticamente nada de história,
que nunca leram um livro nem visitaram um museu não têm mais do que se envergonhar.
Tornaram-se comuns”, afirma. Carr e Bauerlein não estão sozinhos. A jornalista
Maggie Jackson, outra autora crítica da tecnologia, sugere que os mais jovens
estão acostumados, por culpa da Internet
e do uso de celulares, à leitura desatenta de textos cada dia mais breves e estilisticamente mais
pobres. Os 140 caracteres que se podem escrever no Twitter, ela acredita, geram pensamentos máximos de 140 caracteres.
Parece exagero, mas alguns estudos mostram que há motivos para preocupação. Uma
consultoria chamada Genera divulgou
um estudo alarmante sobre os efeitos
do uso da Internet entre os jovens. A
empresa entrevistou 6 mil pessoas da geração que cresceu usando a Internet e concluiu que as coisas estão
mudando radicalmente. “A imersão digital afetou até mesmo a forma como eles absorvem informação”,
afirmam os pesquisadores. “Eles não leem uma página necessariamente da esquerda
para a direita e de cima para baixo. Pulam de uma palavra para outra, atrás de informação
pertinente”. Um efeito disso já foi notado por um professor da Universidade
Duke. Ele reclamou com o autor de The
shallows que não consegue mais que os seus alunos leiam um único livro do
começo ao fim, mesmo nos cursos de literatura.
(Fonte: Revista Época - Adaptação)
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