sábado, 1 de outubro de 2016

O movimento dos sem-calça

Depois do conjunto safári, a bermuda é a nova tentativa de roupa leve no ambiente de trabalho. Será que vai pegar?



Trabalhar no verão não é fácil, mas nossos costumes tornam isso ainda mais difícil. Como se não bastasse o desejo constante de estar na praia, e não numa sala fechada, as roupas formais usadas com tranquilidade no resto do ano se transformam num suplício. Por mais que os ambientes de trabalho tenham ar-condicionado, os meios de transporte se tornam saunas coletivas. Mesmo quem vai ao trabalho dentro de um carro refrigerado não consegue escapar do calor – e do suor – na hora do almoço.
Os publicitários cariocas Ricardo Rulière, Guilherme Anchieta e Vitor Damasceno querem acabar com esse sofrimento. Os três trabalham em agências que liberam o uso de bermudas no verão. Para ajudar quem não tem esse privilégio, criaram a campanha #Bermudasim. O objetivo é convencer chefes de que a bermuda torna o funcionário mais feliz e produtivo. “Vivemos num país onde a sensação térmica no verão chega a 50 graus”, diz Ricardo. “Usar calças ou terno e gravata não faz sentido”.
Em pouco mais de um mês de existência, o #Bermudasim é um sucesso. A página no Facebook acumula mais de 10 mil curtidas. No site, há um formulário em que funcionários podem cadastrar o e-mail do chefe para que ele receba uma mensagem pedindo a liberação da bermuda. São, em média, 2 mil solicitações por dia. E elas funcionam: mais de 100 empresas atenderam ao pedido e liberaram as canelas de fora.
Em algumas empresas, a informalidade já é rotina. O Peixe Urbano, uma empresa de comércio eletrônico no Rio de Janeiro, permite que seus funcionários usem bermuda desde sua fundação, em 2010. Do estagiário ao presidente, todos circulam com as pernas de fora. Alguns funcionários, como o jornalista Pedro Kranz, de 26 anos, chegam a usar chinelo de dedo. “Para uma pessoa profissionalmente segura, a roupa não faz diferença”, diz Pedro.
O time dos defensores da bermuda é reforçado pelos meteorologistas. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o verão de 2014 tem sido o mais quente dos últimos dez anos. Em São Paulo, a média das temperaturas máximas nos primeiros 20 dias de janeiro é a maior desde 1943. Usar roupas confortáveis no verão é também ecologicamente correto. A lógica é que, se os funcionários usarem roupas mais frescas, as empresas podem diminuir a potência do ar-condicionado, o que resulta numa economia de energia. Chile, Japão e Espanha seguiram o conselho e já fizeram campanhas para eliminar o terno e a gravata durante o verão.
Usar bermudas é confortável e pode ser bom para o meio ambiente, mas ainda assim há quem ache o visual inadequado para o trabalho. “A bermuda passa um ar de casualidade e descompromisso, que pode comprometer a imagem da empresa”, diz Daniela Romani, professora do núcleo de cultura e beleza da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). O motivo do estranhamento é cultural. A calça comprida foi adotada como traje de trabalho ainda na revolução industrial. Mudar um hábito tão antigo não é uma tarefa fácil.
Já houve tentativas parecidas. Em 1956, o artista plástico Flávio de Carvalho propôs que os homens usassem saias, para enfrentar o calor. Chegou a desfilar pelo centro de São Paulo usando uma. Ninguém aderiu. O presidente Jânio Quadros também defendia roupas mais adequadas ao verão. Em 1961, sugeriu que os homens usassem conjuntos de sarja com mangas curtas, inspirados nas roupas de caçadores na África. Como outras excentricidades de Jânio, a sugestão foi ignorada.
A proposta de usar bermuda parece ter mais chances de sucesso. Até o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, aderiu à moda no Réveillon do Copacabana Palace. A peça é permitida no verão pela prefeitura do Rio de Janeiro desde 2003. Mas, mesmo se a moda pegar, isso não significa que tudo estará liberado. Os criadores do #Bermudasim desaconselham bermudas de surfe ou de times de futebol. Bermudas de alfaiataria são mais elegantes. Também é preciso ficar atento ao comprimento: short não é bermuda. Roupas muito curtas nunca são adequadas para um ambiente de trabalho, por mais moderno que ele seja. Podemos abrir mão até das calças, mas jamais do bom gosto.

(Fonte: Revista ÉPOCA)

Redação 3 – O movimento dos sem-calça - A empresa em que você trabalha está considerando a possibilidade de liberar o uso da bermuda no ambiente de trabalho e solicitou que todos os funcionários dessem a sua opinião sobre o tema. Para embasar a discussão, a empresa disponibilizou a matéria “O movimento dos sem-calça” e criou um chat para que todos pudessem opinar, de forma anônima, posicionando-se e argumentando a favor ou contra a adoção dessa nova tendência na empresa (Celpe-Bras - adaptação).


3 comentários:

  1. Sou da opinião que quanto mais contente estiver um trabalhador, mais produtivo será. E a felicidade vai além dos benefícios econômicos, posto que os pequenos detalhes também são levados em conta, quer a possibilidade do teletrabalho, quer uma maior flexibilidade com o código de vestimenta.

    Obviamente, é conveniente vestirmos de modo formal para vir ao escritório a fim de que reflitamos uma imagem profissional; contudo, a meu ver, isto não implica que os homens vão de calça comprida (de jeito nenhum!), assim como as mulheres podem ir bem vestidas não só sem calçarem sapatos de salto alto, como também sem maquiagem.

    Aliás, a permissão do uso de roupas casuais nas empresas já virou moda e, atualmente, é uma prática bastante comum. Então, que tal progredir mais um pouco e se tornar um exemplo de companhia sem regras absurdas?

    Por último, com relação ao artigo “O Movimento dos Sem-Calça”, apoio o ponto de vista ecológico deste assunto. Se no verão não estivermos trabalhando acalorados ao usarmos roupas mais leves, reduziremos o abuso do ar-condicionado e, conseguintemente, diminuiremos o gasto de eletricidade.

    Resumindo, para não encher linguiça, acho que logo que dessem licença para usar bermudas ou calças de modo indiferente, incrementaria a satisfação entre os empregados, tanto que contribuiria a atrair e reter talento. Tenho certeza que a implantação desta medida daria certo.

    Beatriz (Prof. Milla)

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    1. Concordo com você, Bea! Aliás, iria um pouco mais além do movimento dos sem-calça e proporia o movimento das sem-sutiã ou sem-maquiagem. Odeio ter que usar as duas coisas o tempo todo no meu trablaho para aparentar "boa aparência" (desculpe a redundância) e "normalidade". E quem não gostar, que olhe para o outro lado, ora essa! Estou de saco cheio de ter que usar terninhos ou conjuntos conservadores mais "adequados" ao meu entorno laboral, ao invés de ir mais à vontade mantendo a mesma eficiência. Até porque "sem-sutiã" não quer dizer ir com os peitos de fora... e "sem-maquiagem" não quer dizer ir com a cara amarrotada... Já sei que estou parecendo meio amargada hoje, mas é que esse tema me toca fundo, pois ando com os pés cheios de bolhas de tanto salto alto por causa da bendita boa aparência. Enfim, talvez seja a hora de mudar de visual... ou de emprego ;-)

      Carmen (PM)

      Obs.: Carmen, tive que fazer a sua postagem de novo, porque aparecia no meu e-mail como "enviada", mas não aparecia nos comentários do blogue. Não sei o que aconteceu para qu não aparecesse quando você a digitou :(

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    2. Poi, é! Eu me esqueci de assinar a "Obs.". Sou eu, Carmen, isto é, Milla ;)

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