sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Colônia de férias ajuda viciados em tecnologia a desconectarem


A ideia é devolver às pessoas o prazer de conversar e de fazer novos amigos. A série do Jornal Nacional mostra os problemas da dependência de tecnologia.

No mundo todo, a multiplicação dos aparelhos portáteis, como tablets e celulares, acompanhou o mergulho de milhões de pessoas na Internet. E nem sempre de um jeito saudável.
Você, provavelmente, não está nas fotos mostradas na reportagem. Mas será que você se reconhece nelas? É gente que não larga o celular mesmo quando está com os amigos, com a família e até na cama. Inclusive o autor das fotos, Eric Pickersgill. Mas cadê o celular? Ele chegou a dormir com o celular na mão, aí pensou: se o mundo não tira mais o olho do telefone, é hora de tirar o telefone das pessoas. A série de fotos de quem ele encontra na rua é um pedido de reflexão.
"Não quero dizer a ninguém o que fazer, mas se você for usar o celular ‘pra isolar os outros, pelo menos tenha consciência do que está fazendo", diz Eric.
Mas qual é o limite para buscar o equilíbrio? Na recepção de um prédio de Nova Iorque é assim: lá dentro, mantras, exercícios para se alongar e ter consciência da respiração. São aulas de mindfulness, que em português quer dizer atenção, consciência plena. A ideia é combater a ansiedade e fazer exercícios para aprender a apreciar o momento, fazer uma coisa de cada vez. É um tipo de meditação que está ficando popular entre quem quer se livrar dos excessos da tecnologia.
Alan Finger, professor há mais de 20 anos, diz que a ideia é que você não fique pensando em várias coisas ao mesmo tempo. "Você aprende a sentir quem você é, sem o celular. E aí você pode sair e usar numa boa", ele afirma.
Ele mesmo tem um celular de última geração: "Eu adoro aparelhos eletrônicos. São parte da nossa evolução. Mas você precisa saber que você tem o controle, não eles", ele aponta.
Dina diz que está dando certo. Ajuda a não pensar o tempo todo "nele".
A tentação é grande. Se a gente levar em conta só os aplicativos, os sites e as redes sociais mais populares, a cada minuto o mundo assiste a 3,4 milhões de vídeos na Internet, manda 20 milhões de mensagens, publica 3,3 milhões de postagens nas redes sociais e 55 mil fotos.
A preocupação em desconectar é tanta que já tem até colônia de férias para quem exagera nos eletrônicos: quatro dias no meio da natureza, só adultos, com muito esporte e diversão. Não pode bebida alcóolica, computador nem celular. A ideia é devolver às pessoas o prazer de conversar e de fazer novos amigos, como antigamente, sem ajuda da tecnologia.
Foi a maior aventura de Michael este ano. Ele voltou para Nova Iorque com boas lembranças. "Pensava que era coisa de hippie, mas não. Virei criança de novo. E comecei a interagir com as pessoas sem ter o telefone como muleta", conta Michael.
E agora, três meses depois, como ele se sente?
"Eu vivia estressado, ansioso. Passava 18 horas por dia na Internet. Hoje, eu ainda fico tentado. Aí eu digo: ‘opa, espera um pouquinho’. E vou fazer outra coisa", diz.
Na casa de Carol, há regras claras para as crianças: “Vou tirar um ponto de briga, se não parar de brigar. E aí não vai ter as estrelinhas da TV nem do tablet”, ela diz para os filhos. Mas foi ela quem começou a exagerar. “Rede social direto. Em todas as que eu fizesse parte, eu olhava, dava uma checada. Eu podia esquecer a carteira, a bolsa, mas eu não podia esquecer o celular”, conta Caroline Klotz, administradora. Até que os filhos, que também adoram celular, começaram a reclamar. “Principalmente o mais novo – ‘mãe, tô falando com você, mãe, olha pra mim, desliga o celular’. Você percebe que é um negócio que não está te fazendo bem”, lembra Caroline.
Numa pesquisa feita com 6 mil entrevistados em nove países, mais da metade das crianças reclamaram que os pais usam celular demais, ficam até mais tempo com eles do que com elas. O Brasil foi o país em que as crianças mais se queixaram.
Carol resolveu maneirar nas redes sociais.
“Eu falei: ‘Vou parar! Vou tirar do meu celular, vou deixar só no meu tablet, que eu não vejo todos os dias’”, diz Carol. João e Pedro agradecem. Sobrou mais tempo para eles jogarem um pouquinho, e mais tempo para brincar com a preferida da casa. “Me deu espaço ‘pra coisas que eu considero, ‘pra minha vida, mais importantes. O gostoso é procurar o equilíbrio. Acho que, agora, eu achei o meu”, conta.

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