sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Estão falando mal de você no Facebook

As redes sociais levam as fofocas e os vexames do trabalho para o ambiente público. Uma em cada três pessoas já foi vítimas da agressão virtual. Como lidar com ela? 

Por Camila Guimarães, Rafael Barifouse e Thais Lazzer


O assédio moral virtual é a evolução das piadas ofensivas de colegas e chefes abusivos que sempre existiram. Fazer fofoca e futricas é tão antigo quanto a humanidade. As habilidades de falar mal dos outros e criar situações humilhantes dentro do ambiente de trabalho apareceram já nas pequenas oficinas da Idade Média. No mundo moderno, tais atos ganharam um nome (assédio moral) e passaram a ser punidos na Justiça. Agora, as conversas maldosas deixaram a salinha do café, os corredores escuros e ganharam visibilidade: estão na internet – onde todo mundo pode ver. 

O que não está mais tão claro são os limites entre o público e o privado. Nos e-mails com cópias, aumentaram as chances de uma bronca desmedida da chefia virar um enorme vexame. Nas redes sociais, comentários sobre colegas do trabalho, sobre crises com o chefe ou subordinados, antes restritos às quatro paredes, são compartilhados descontroladamente. 

Cerca de 90% dos processos trabalhistas são movidos por assédio ou dano moral no Brasil. Não dá para saber quantos, entre eles, envolvem meios digitais, já que legalmente o assédio tradicional e o moral são tratados da mesma forma. Uma pesquisa feita com exclusividade para ÉPOCA, pela AVG, empresa mundial de segurança na internet, dá uma ideia do tamanho do problema. Foram ouvidos 500 funcionários de pequenas, médias e grandes empresas brasileiras. Os resultados são surpreendentes. Uma em cada três pessoas afirma ter sofrido algum tipo de ataque ofensivo por e-mail, mensagem de texto ou por redes sociais, seja do chefe ou de colegas. Cerca de 40% dos entrevistados já souberam de rumores e fofocas sobre eles mesmos que circulavam por e-mail ou outras formas de comunicação digital. Os números brasileiros são altos. A mesma pesquisa foi feita em nove países da Europa e nos Estados Unidos. No total, apenas 8% dos 4 mil entrevistados foram alvo de rumores e fofocas pela web. E 9% foram insultados por algum meio de comunicação digital. 

“Os resultados da pesquisa mostram que as empresas precisam adotar, com urgência, políticas e regras claras de uso das redes sociais”, diz Tony Anscombe, executivo da AVG responsável pela pesquisa. Quase 87% dos entrevistados brasileiros não sabem se a empresa em que trabalham tem uma política de conduta para esses casos ou afirmam que não tem. “Ninguém sabe direito ainda como lidar com isso”, afirma Sônia Mascaro, advogada trabalhista de São Paulo. 

A confusão começa com o próprio conceito de assédio moral virtual. Embora seja uma nova modalidade de assédio, a definição legal é a mesma: atos feitos de forma sistemática que humilham, constrangem, ridicularizam ou causam dano à honra e à imagem de alguém. Além do assédio praticado por chefias, as agressões podem acontecer entre colegas ou partir de um grupo deles contra uma pessoa só. Pode até partir de subordinados contra superiores. A mudança trazida pelos meios digitais são duas: os casos ficaram mais públicos e a extensão do estrago é maior para todos os envolvidos. “A evolução da tecnologia só piora o que já estava ruim: as relações de trabalho, deterioradas pela pressão da competitividade e da busca por melhores resultados”, afirma a advogada Sônia.
(Fonte: Revista ÉPOCA)

3 comentários:

  1. Embora todo o mundo goste de fofacar, temos que prestar atenção nas possíveis repercussões.

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  2. Eu acho que os meios digitais evidenciam uma tendência da sociedade tão antiga como a sociedade mesmo. Enquanto não concientizarmos do prejuízo que pode causar a fofoca os casos de assédio moral aumentaram. Embora pareça que as redes sociais são as culpadas desta situação é a mentalidade das pessoas o que precisa mudar a fim de que acabe esta forma de sofrimento tão desnecessária.

    Emma da Bahia

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  3. Mesmo que a fofoca seja inata à sociedade, os dados do estudo no Brasil são extremadamente altos, não só em comparação com outros países, mas também em termos absolutos.

    As empresas deveriam tomar providências para evitarem, ou pelo menos reduzirem, estas situações no ambiente do trabalho. Deveria haver um código ético que definisse os limites e pudesse servir de guia para o comportamento dos empregados nos meios digitais. O controle do cumprimento deste código não seria fácil, sobretudo nos perfis pessoais nas redes sociais, mas a formação e uma campanha de conscientização ajudariam para os empregados mudarem sua forma de se comportar e para reverter assim a tendência atual.

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